sábado, 2 de fevereiro de 2013


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades




- Rui Reininho _ RTP


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança,
Do mal, ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria;
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões, Sonetos


Soneto perfeito

1.ª quadra: apresentação
(o poeta apresenta a ideia que vai desenvolver: a mudança)
2.ª quadra: desenvolvimento
(o poeta desenvolve a ideia apresentada na 1.ª quadra)
1.º terceto: confirmação
(o poeta confirma, de modo concreto, o desenvolvimento da ideia: a mudança que se efetua tanto na natureza como no seu espírito)
2.º terceto: conclusão
(o poeta faz a síntese das ideias precedentes, acabando com «chave de ouro»: a ideia de que a mudança mais surpreendente é a de que já não se muda como era costume, isto é, a mudança da própria mudança).

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As mudanças que se verificam:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
(os costumes, os hábitos e as ideias variam em conformidade com a época em que se vive)
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
(à medida que se envelhece e se adquire maior experiência vai-se mudando a perspectiva da vida)
Muda-se a natureza
(a neve que cobria o chão, no inverno, deu lugar ao verde manto, na primavera)
Muda-se o estado de espírito do poeta
E em mim converte em choro o doce canto.
Muda-se actualmente de uma forma diferente, isto é, há uma mudança dentro da própria mudança
não se muda já como soía.

Consequências da mudança:

·         As coisas adquirem novas qualidades
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
·         Vemos sempre coisas novas
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança,
·         Ficam na recordação as mágoas do mal que sofremos
Do mal, ficam as mágoas na lembrança,
·         Temos saudades dos momentos felizes
E do bem, se algum houve, as saudades.

As coisas mudam para pior

·        As esperanças não são correspondidas
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança,
·         O bem é (quase) inexistente
E do bem, se algum houve, as saudades.


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Tema: a mudança
Assunto: todas as coisas estão em perpétua mudança
Sentimentos expressos pelo poeta:
a desilusão
a saudade
a mágoa
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Mu_dam_-se os_tem_pos,_mu_dam_-se as_ von_ta_des, _10 sílabas métricas

Decassílabo, com rima interpolada e emparelhada nas quadras e cruzada nos tercetos; esquema rimático: ABBA/ABBA/CDC/DCD

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Anáforas - (repetição da mesma palavra no princípio de frases ou versos consecutivos) referentes ao verbo “mudar”
Antíteses - O eu lírico estabelece uma comparação entre a ação do tempo sobre si próprio e sobre a natureza. Para estabelecer essas comparações, o eu lírico faz uso da antítese (figura de linguagem que consiste em aproximar ideias opostas). Os pares antitéticos são: “mal” e “bem”; “verde manto” e “neve fria”; “doce canto” e “choro”.



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- José Mário Branco


11 comentários:

Unknown disse...

acho que os autores deviam parar de fumar maconha antes de escrever seus poemas. :) ficaria feliz em encontrar algum autor que não tenha fumado um baseado antes de escrever :D

Unknown disse...

Sou o pexe

universo oposto disse...

Kkkkkkkkkk...verdade!!!

Unknown disse...

mangalho

Diogo disse...

Muito bom, está um blog reakmente muito bom na analise do poema

Unknown disse...

alguém me pode explicar como se processa a mudança no sujeito poético?

none disse...

excelente análise!!!

Anónimo disse...

existe sujeito inexistente nesse soneto?

fds disse...

fds ca dores de cabeça

Unknown disse...

muito bom!!

Anna Oliveira disse...

O mlr comentário até agr ��